PEDRA MAR
2018
Sobre a necessidade de flutuar, a busca e o fracasso. Não era este o mar que eu estava à espera. Aqui afundo-me em câmara lenta, como se pesasse uma leve tonelada.
Tanto mar, tanta rocha, tanta lenha. O farol e a grande luz. Este projecto não passa de um punhado de memórias nostalgicamente salgadas. Sou basalto, duro e escuro, o que ficou de um vulcão explosivo agora mais do que adormecido. Ficam falésias e ravinas, e as rochas ásperas pela erosão do mar, fazem-me os pés sagrar. Depois o sal que fica no corpo após um mergulho sente-se nos lábios e acumula-se nas dobras e nas sobrancelhas.
O sal é uma solidificação do mar. Líquido é flutuação, sólido é matéria – o sal é peso e leveza e o mar é o silêncio das pedras. Aí um barco esculpido com um canivete numa racha de lenha ou de pedra permite-me flutuar em ti – E que a competição comece! - E entre o escuro basalto que sou, bates-me como uma onda cheia do teu azul salgado, e perdi. Nesse momento só consigo ouvir silêncio, que é o som de quando estamos debaixo de água.
A 1000 km de distância, no meio de uma grande cidade, uma pedra de basalto procura mar salgado para se render ao que não é credível - o amor. E aí, a terra vai arrepiar-se só um bocadinho.